"Vivemos ainda nesse estranho regime que associa a moralidade à crença religiosa, como se existisse alguma relação entre religiosidade e comportamento moral, como se não soubéssemos nada sobre a lambança feita pelos padres com as crianças e adolescentes – para não falar dos séculos de lambança obscurantista e anticientífica promovida pelas religiões..." Idelber Avelar

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

NIETZSCHE E A REALIDADE


"No cristianismo, nem a moral nem a religião têm qualquer ponto de contado com a realidade. São oferecidas causas puramente imaginárias ('Deus', 'alma', 'eu', 'espírito', 'livre arbítrio' – ou mesmo o 'não-livre') e efeitos puramente imaginários ('pecado', 'salvação', 'graça', 'punição', 'remissão dos pecados'). Um intercurso entre seres imaginários ('Deus', 'espíritos', 'almas'); uma história natural imaginária (antropocêntrica; uma negação total do conceito de causas naturais); uma psicologia imaginária (mal-entendidos sobre si, interpretações equivocadas de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, os estados do nervus sympathicus com a ajuda da linguagem simbólica da idiossincrasia moral-religiosa – 'arrependimento', 'peso na consciência', 'tentação do demônio', 'a presença de Deus'); uma teleologia imaginária (o 'reino de Deus', 'o juízo final', a 'vida eterna'). – Esse mundo puramente fictício, com muita desvantagem, se distingue do mundo dos sonhos; o último ao menos reflete a realidade, enquanto aquele falsifica, desvaloriza e nega a realidade. Após o conceito de 'natureza' ter sido usado como oposto ao conceito de 'Deus', a palavra 'natural' forçosamente tomou o significado de 'abominável' – 
todo esse mundo fictício tem sua origem no ódio contra o natural (– a realidade! –), é evidência 
de um profundo mal-estar com a efetividade... Isso explica tudo. Quem tem motivos para fugir 
da realidade? Quem sofre com ela. Mas sofrer com a realidade significa uma existência malograda...
 A preponderância do sofrimento sobre o prazer é a causa dessa moral e religião fictícias: mas 
tal preponderância, no entanto, também fornece a fórmula para a decadência..."Nietzsche

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