"Vivemos ainda nesse estranho regime que associa a moralidade à crença religiosa, como se existisse alguma relação entre religiosidade e comportamento moral, como se não soubéssemos nada sobre a lambança feita pelos padres com as crianças e adolescentes – para não falar dos séculos de lambança obscurantista e anticientífica promovida pelas religiões..." Idelber Avelar

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O GAROTO QUE QUERIA SER DEUS - SINOPSE

 


SINOPSE - O garoto que queria ser Deus começa lá na sua cidadezinha onde “só havia rezas, superstições, procissões, doenças, desambições, uma guerrinha política e um padre encrenqueiro”. Depois ele vai para uma outra cidade, onde teve uma experiência pouco dignificante numa igreja, a mesma igreja que todos frequentavam, e cujas lembranças o acompanhariam. Ao atingir a adolescência, muda-se para a capital, aspiração cercada de muitos obstáculos, já que ele próprio teria que dar conta de si. Então o jeito é hospedar-se na casa de parentes e tocar a vida. Simultaneamente às questões existenciais que vive, ele aspira, como todo jovem, a encontrar a oportunidade de alguma namorada. Entretanto, contido por suas inibições, pela sua forma de criação ou por restrições vindas da fé, ele vem a se deparar com verdadeiras “muralhas e barreiras” impeditivas de sua aproximação da pretendente. A tal ponto que num certo momento ele confidencia a si mesmo: “esses amores impossíveis têm pelo menos uma vantagem, que é a de gerar uma história mais longa”.
O romance é construído numa linguagem satírica, irônica, e o narrador não perde nenhuma oportunidade para gracejar sobre as situações que se desenvolvem. Outra característica do livro é que a narração é acompanhada paralelamente de toda a atmosfera que envolve não só os personagens, como o próprio narrador. Então, o mundo exterior frequentemente vem para junto da história. Este aspecto lateral do livro resulta conferindo ao texto certa condição de crônica social. As sátiras vão atingindo tudo, as religiões, a política, as ideologias, a própria vida.
A trajetória do garoto tem vários estágios a partir da cidadezinha, a outra cidade, a mudança para a capital, mais as agruras para estudar e trabalhar desde a adolescência. Sua primeira missão o leva a ter contato com numerosas pessoas; é certamente uma experiência variada, essa de visitar, conversar e vender assinatura de revistas para toda essa gente numa rua que ele elegeu como alvo de seus negócios. Tudo entretanto é muito instável e ele se vê obrigado a dar uma guinada de muitos graus em sua vida, vai para um grande empreendimento, a construção de uma enorme hidroelétrica no meio da floresta, em um grande rio, com todos os percalços que uma aventura dessas possa ensejar. Um local que passa então a atrair milhares de pessoas. E aqui ele se vê às voltas com alguns outros personagens, um certo Lavareda, um padre e um tal Leonardo. E onde veio a se envolver também com uma linda nativa da região.
Tratando-se do garoto que queria ser Deus, as questões da fé estarão necessariamente muito presentes em torno dele. Essas compulsões costumam afetar indistintamente os crentes de todos os credos. Assim, a massa de religiosos presentes nesse empreendimento – depois de um certo acontecimento ocorrido com esse rapaz – começa a se manifestar; todos passam a imaginar que o moço tenha sido alvo de uma bênção ou de um milagre. Uma das mulheres, dentre as centenas que ali habitam, pede ao padre que abençoe um objeto que estivera nas mãos do “sujeito agraciado”; em outro momento elas pedem que o “alojamento do sujeito seja transformado em oratório”; reivindicam em seguida que sua rua seja chamada “Alameda do Profeta”; agora pedem ao padre que o bispo de Belém reconheça o milagre. E assim as compulsões da fé vão se sucedendo coletivamente.
Num certo momento o narrador propõe: nossa tarefa é descobrir até onde pode chegar esse rapaz, alguém que conduz seus bons e maus agregados – herdados ou adquiridos, circunstância que lhe confere um comportamento singular.
Outro aspecto de destaque do livro é a profusão de diálogos que segue todo o texto. No episódio da prisão de um dos personagens, ao tempo da repressão militar, no encontro entre inquisidor e suspeito tem-se um diálogo notável. Por outro lado, a linguagem elaborada, acessível e agradável do livro é outra característica do texto, embora haja certas redundâncias.
(A imagem de capa do livro e esta sinopse estão em - www.ogaroto.com.br - onde já aparecem os primeiros comentários sobre o texto)

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